Hoje eu estava procurando uns pertences em uma gaveta
antiga, e encontrei vestígios de um atleta. Tinham medalhas do Futebol, da
Natação, e até do Jiu-Jitsu. Meus pais se enchiam de orgulho quando eu trazia
alguma para casa. Meu pai -principalmente- com a tolice de um velho babão, e a
alegria de uma criança ao ganhar jujubas, enchia a boca pra dizer que no ultimo
fim de semana, seu filho tinha conseguido uma medalha de ouro com um mergulho
perfeito.
Saindo dos esportes, todavia, continuando na ação, as medalhas
ganharam o nome de Distintivos, já que me tornei um Escoteiro. Infelizmente, o
Grupo no qual participava acabou, e levou com ele as aventuras com lenço azul e
roupa cáqui. (esqueci de mencionar que o Jiu-jitsu viera depois desta época. E
as medalhas voltaram a ter o nome de Medalhas).
Depois das artes marciais, não recebi nenhum prêmio tendo
o corpo como ferramenta, e as medalhas passaram a dormir em uma gaveta. E todo
mundo sabe que poeiras entram em quase todos os lugares. Com elas não foi
diferente. Parei e vi que apesar de ter passado pouco mais de uma hora desde o
último banho, eu também tinha poeira sobre meu corpo, e pior, a disposição
física de um enfermo(talvez agora eu tenha feito jus ao título que recebi de “Pseudo
dramático”. Nem sei o que isso significa, mas o fulano que nomeou parecia ter
uma grande convicção do que disse. Deveria ser um “Pseudo cult”). Foi isso que
vi! Vi também que a inércia nunca combinou comigo. Uma das frases que mais ouvi
na vida foi “esse menino inventa coisa”(meus pais falavam/falam, e muitas vezes
com um tom não muito satisfeito). Minha resposta sempre foi: “já existia. Só
comecei a fazer”.
Analisando meu corpo de velho que ainda nem chegou aos
vinte, vi o quão a falta de movimento afetava minha autoestima. Agora(que não
será “agora” quando você estiver lendo) escrevendo este texto, lembrei(o verbo
no pretérito indica que o “agora” já passou até para mim. O tempo ainda vai
acabar me matando!) que as ultimas vezes que coloquei meu corpo parar mexer,
foi quando segui o conselho de uma amiga: dance! Corpo e mente sorriram.
Gargalharam, na verdade. É incrível como essa separação não faz sentido algum
quando os dois estão em harmonia. Eu estava com uma mente cheia de ideias, para
um corpo cansado.
Estou longe de conseguir uma medalha como dançarino.
Realmente sou péssimo fazendo isso. Mas fico ótimo depois que faço. E é isso
que importa. As medalhas voltarão para a gaveta. Meu corpo não! Ele não cabe
mais lá. Não digo que o movimento corporal é a peça chave para um bem-estar
psíquico. Digo que essa foi a chave que encontrei pra mim, no momento. Encontre
a sua, ou as suas; Faça um chaveiro. Só não arrombe portas. Além de ser crime,
só fica bonito na ficção. Depois fica um vão aberto, e no inverno faz frio.
Agora vou parar de escrever. Amanhã terá Maracatu, depois
será Sexta, e todo mundo sabe que as noites de domingo são um saco quando não
se tem nada pra fazer. Então, me concede uma dança?
–
Carlos I. Gomes.