quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Por mais que um ser veja



Vendo tudo que mudou,
Com minha métrica desajustada,
Percebo que a vida só fica parada,
Quando está à espera de puxar o gatilho,
Mesmo trajado maltrapilho,
Tento não perder o pipoco da largada.

Se for possível, eu tento,
Se for utópico, eu almejo,
Se não conseguir, eu pelejo,
Se for Aristotélico, ‘philio’,
Ágape é sempre um desafio,
Se for platônico, desejo.

No compasso do meu pensamento,
A rima está sempre atenta,
Hora rápida, vezes lenta,
Mas sempre com uma nova cara,
O preço de uma rima rara,
Uma poesia boa já isenta.

Não precisa de complexidade,
O alicerce é o sentimento,
É como juntar tijolo e cimento,
Emparelhar formando um muro,
Na boca da garrafa tinha um furo,
Que foge do meu entendimento.

Nem esperava e estava vazia,
Se espero, fica quente,
Aos goles, estava contente,
Com risadas e amigos,
Distante de todos os perigos,
Todo mundo parecia mais gente.

– Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Alethéia

Ler é viver.
E procuro ler tudo que posso.
Tudo que vejo,
Que sinto,
Que minto,
Ou que choro.
Tudo que me vem de novo,
Ou que novamente habita em meu campo.
Leituras minuciosas e esvoaçantes.
Leituras caprichosas, caprichadas e dissonantes.
Eu leio axé, leio samba, leio reggae.
Leio quem tá em pé, quem se aproxima, e quem segue.
Leio o brilho, o fosco, e o colorido.
Leio até o que teria sido uma boa proposta.
Sim, o futuro!
Esse eu também leio.
Anseio, preocupo, e fantasio.
Quem diz que o tempo é linear,
Esqueceu de olhar,
Que ele retorna, e projeta a todo instante.
Sem voltar pro mesmo ponto.
Conto pedras, árvores, gergelins,
Conto flores, nãos e sins.
Conto histórias.
Conto até o que não vivi.
Sem esquecer que leio placas,
Outdoors e livros.
Leituras profanas, seculares, e de hieróglifos.
Leio os tambores que ressoam um só grito.
Leio mitos, leio até o que não tem fim.
Gosto de ler palavras.
E poucas delas são escritas.

- Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Carta aos amigos




    Existem pessoas que conhecemos há séculos. Mas a geografia, muitas vezes, só nos permite o contato depois de um certo tempo após o nosso nascimento. Me arrisco a dizer que elas aparecem quando precisamos. De maneira descabida, confiamos. Confiamos sem garantias. Confiamos pela intuição. E depois de confiar algumas vezes, vemos que fizemos bom negócio. Mas não se engane. Essas não são pessoas comuns. Então você não precisa bajular, nem tampouco puxar papo todo fim de tarde. Com essas pessoas, o assunto não tem começo, nem fim. Com essas pessoas, você não anda na corda bamba das amizades freadas. Com essas pessoas, você não precisa ter medo algum de ser pessoa; ser gente. Sem adornos; sem maquiagem; despidos. Falo da nudez da alma. Meus amigos estão espalhados. Cada um, em um espaço diferente. Nasceram em momentos diferentes. Deve ser o fuso horário. Percebi que isso é uma grande vantagem, pois sempre terei pra onde ir. Às vezes, a melhor coisa que eles podem nos ofertar, é um singelo abraço. Mas me diga: pra quê mais?
-Carlos I. Gomes

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Ainda...



Nas diversas tentativas de te descrever em palavras, falhei. Todas as vezes que tento te transformar em texto, fala ou poesia: tenho uma pane como resultado. É bem sabido que há coisas que não consigo explicar. Mas tu? Quase uma agulha que fura meu ego inflado. Quase uma afronta. Continuarei insistindo. Pois, uma das poucas coisas que posso afirmar, com a pequena certeza que me cabe, é que nós dois sofremos de teimosia.


 – Carlos I. Gomes. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sempre segue...



Passou bem diante dos meus lábios.
Pois os olhos já não enxergavam nada.
O vento tira o cheiro,
E o meu costumeiro olfato cansado,
Permanece calado,
Ouvindo os passos proibidos.
O vento gela o coração que queima,
O cérebro teima em dizer que é infarto.
Quase entro em colapso.
Depois de ser interrompido,
E meus sentidos voltarem à tona.
Observo a zona
Que deixaram os cacos do meu mosaico.
E já que não existe mais figura,
Olho a pintura que a realidade despiu.
Sempre levanto, se cair,
Pois o vento passa,
No que o tempo deixa seguir.

– Carlos I. Gomes.