quinta-feira, 21 de abril de 2016

Desatei, desatino.


Todo verso que te dei,
Que de mim, tirou pedaço,
Amarrei com corda, fiz um laço,
Chamado poema.

Quando tudo juntei,
Em papel manchado,
De sangue todo coalhado,
Mostrando que até nas tripas,
Tinha amor por ti,
Vi que não valia a pena.
Nem a tinha, nem o poema,
Nem corda que faz laço,
Nem traço que faz desenho.
Pois era tão triste,

Sozinho,

Que
Não
Cabia
Mais
Nos
Estrofes
Que
Tenho.

Desfiz o nó.
Alguns versos ganharam vida,
Outros viraram ferida.
Muitos tornaram-se comida de abutre.

Felizes os que ganharam melodia,
Convivendo comigo dia a dia,
Passando a ser sombra do meu violão.

– Carlos I. Gomes.




sexta-feira, 8 de abril de 2016

Será que ela vem?



Vou convidá-la pra uma festa.
Não sei que música será tocada,
Se será casual, ou balada,
Samba, coco de embolada,
Baile funk ou sertanejo.
Mas se tiver carinho e beijo,
O coração embala em qualquer valsa.
Primeiro preciso puxar assunto,
Ela nem sabe que existo,
E se sabe, eu insisto,
Que me veja, que me ouça,
E que escute minhas piadas.
E que ria!
Não estou dizendo que seja obrigatório.
Mas a risada poupa qualquer falatório,
Que venha a cansar a moça.


– Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Porta de cupim



Criei um pé de apoio,
Um bote de pronta entrega,
Pra salvar quem carrega,
Um fardo maior que pode.

Se esse fardo não fosse meu,
Se alguém fosse seu dono,
Usaria o truque do abandono,
E fugiria com um sorriso na orelha.

Escrever sobre algo que cintila pulsante,
Difere de esmiuçar sobre algo que não pulsa.
Você não sabe se bem trata ou se expulsa,
O verso que vem na tua mente.

Com ferrolho entreaberto,
Tranquei minha porta de cupim,
Que de tanto escorá-la com cadeira,
A bendita madeira,
Chegou ao fim!


– Carlos I. Gomes.

terça-feira, 22 de março de 2016

Sobre conversas inesperadas


Percebo que quanto mais você firma seus objetivos, quanto mais você se encontra no que quer, mais aparecem coisas relacionadas à causa. Eu sou demasiado curioso; demasiado questionador; demasiado falador; demasiado! E quando encontro pessoas que são questionadoras, que não se contentam com o que se apresenta e, querem ir além, é incrível! Não digo que não convivo com pessoas assim, pois se dissesse, estaria mentindo.
Nesse texto eu venho falar das surpresas: seja vinda de pessoas que você conhece, mas não sabia que pensavam de tal forma, ou vinda de pessoas que você não imaginaria que existiam, mas como que por um truque do destino, você as conhece e devaneia por horas, ou até onde a linha do trem acaba. Como disse, sou um tagarela declarado. Por mais que a outra pessoa fale, eu sempre acho que falei mais (e estou certo na maioria das vezes). Ultimamente tenho tido conversas revigorantes. É realmente animador quando você tem uma boa surpresa. E para minha sorte, esta surpresa tem vindo em formato de palavras agrupadas em um contexto, emitidas por um interlocutor eloquente, que por não conseguir transmitir tudo através de fonemas, solta uma gargalhada.
Fica claro depois da terceira, ou mesmo da primeira conversa (para um bom observador), que adoro me expressar por meio de metáforas. Mas tem uma coisa que eu adoro mais do que me expressar por metáforas: não ter que explica-las depois. Chego ao meu ápice de alegria quando vejo que posso falar da maneira que gosto, e ser compreendido. Com essa sociedade do “expresso”, as pessoas perderam o ânimo por coisas mais complexas. Querem tudo da forma mais rápida possível. Às vezes por querer tão rápido, acabam nem terminando seus afazeres. Tendo isso em vista, é totalmente compreensivo que eu fique animado com boas conversas, que estão cada vez mais raras.
Por isso, Criança, eu vos digo: viva intensamente cada boa conversa. Quando não souber o que falar, solte uma piada. Provoque o riso e se deixe provocar por ele. Nos tempos de hoje, desperdiçar um bom proseado, como diria meu avô, é privar-se da alegria; trair a si mesmo!

– Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Procurou refúgio



Todos os poemas destinados a ela,
Pareciam sofridos, caídos, com muletas.
Todas as madeiras que alimentavam sua fogueira,
Pareciam gravetos, varetas.

Eram fantasias sem festa.
Apresentavam-se como a fresta
Da porta que abre para o horizonte.

Falavam de força e empenho,
Das cicatrizes que hoje tenho,
Das coisas que não se vê a olho nu.

Então vesti minha roupa de ‘escrevedor’,
Que no bolso nunca falta uma caneta,
Na face, sempre uma nova careta,
Para enfrentar as feiuras de cada dia,
Que por artimanha, covardia,
Tocam na sua mão,
Antes de uma nova rasteira.

Depois de tanto ser falada,
Arrumou as malas, foi embora.
Decidiu esconder sua beleza.
Talvez a Dona Felicidade,
Tenha cansado dos boatos de inimizade,
Dela, com sua vizinha Tristeza.

 – Carlos I. Gomes.








terça-feira, 15 de março de 2016

Uma carta a Deus e a Satanás



Prezados Senhores do Destino,

Declaro-vos livres de tal incumbência em minha vida. Sei que durante todo esse tempo, foi muito difícil me manter na linha, ou fora dela. Não pensem que eu não reconheço os trabalhos prestados. Muito pelo contrário. Só tenho a agradecer. O problema é comigo. Eu cansei de ficar esperando pelo senhor, Deus. Esperar a paz mundial. Esperar um redentor. Esperar que algo dê certo na minha vida. E Satanás, eu sei que as tentações foram muitas. Algumas quase irresistíveis. O senhor sabe bem como satisfazer os prazeres da carne. Eu vos agradeço por tamanha dedicação. E mais: parabenizo-vos! Outros teriam desistido facilmente. Mas como falei anteriormente, o problema é comigo. Eu não sou do tipo que vive em penitência; Que não questiona; Que se satisfaz com um “se deus quiser isso acontece”. Nem tampouco sou dos que se esbaldam em esbórnias e surubas. Pensei nisso durante muito tempo. Quase fiquei sem dormir. Terminar um relacionamento de dezoito anos é realmente complicado. E não pensem que não fico triste. Nós poderemos até sair de vez em quando pra dar uma volta. Todavia, receio que não vai ser a mesma coisa. E até entendo se vocês quiserem se afastar de vez. Não condeno de forma alguma. É que eu decidi tomar minhas próprias decisões. Eu sei, eu sei, é o modo mais difícil de viver. Vai ser difícil não recorrer às suas forças para que algo dê certo. Satanás, é realmente difícil a convivência contigo. Você quer minha alma a todo custo. É pacto pra cá, pacto pra lá. A sociedade já faz o trabalho de me sugar até o meu último suspiro. Estudo; trabalho; planos; família. E ainda tenho que pensar no futuro. E pior, sem nem tê-lo garantido. Futuro esse, regido por Deus. Ou seja, não tenho escolhas a não ser o rompimento. Eu quero ter o mínimo de poder de escolha. Eu sei, existem leis cósmicas que possibilitam, ou impossibilitam os meus atos. Mas agora vou tentar não responsabiliza-los se algo der certo ou errado em minha vida. Tiro esse fardo de suas costas. Existem mais de sete bilhões de pessoas no mundo. Doze por cento delas passam fome. Um por cento detêm metade do PIB mundial. Penso que se renunciar o meu posto, os senhores terão mais tempo para cuidar de tais assuntos. Que cá entre nós, estão jogados às traças. Na minha cabeça não faz sentido que vossas senhorias percam tanto tempo comigo, enquanto que eu posso fazer minhas próprias escolhas e, colher as consequências delas. Seja me dando muito bem, ou me ferrando totalmente. Por isso declaro acabada a “quebra de braço” travada durante todos esses anos. Talvez no fim das contas, terei que ficar do lado de um dos dois. Mas por hora, daremos uma trégua. Não sei se a ocasião pede um “tchau” ou um “até breve”. Portanto, ficaremos sem despedidas.

– Carlos I. Gomes

quinta-feira, 10 de março de 2016

Tentativa

A arte leva tempo.
E eu que apressado,
Muitas vezes desatento,
Borro as telas da experiência.
Vivências encardidas.
Sofridas com toque de véu,
Grinalda e alianças.
Todas as esperanças
De um casamento.
Desatento, deixo a noiva passar.
E o padre,  enfurecido,
Disse que teria me batido,
Se não tivéssemos na igreja.
A arte leva tempo,
Leva sono, deixa insônia.
Podem tocar fogo na babilônia,
Que ela continuará de pé.
Não é Alexandria.
O Império é mais extenso.
Quanto menos durmo,
Mais penso,
Um turbilhão que se apresenta
Em meros olhos vermelhos.
Aparelhos de um corpo cansado,
Porém disposto.
Que vai na pia,
Lava o rosto,
Para pintar o próximo quadro.
Falho!

- Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Errante

Aquém de qualquer sotaque.
Era do mundo,
Pro mundo,
E entendia que a vida é só essa.
Sem pressa, tentava não morrer.
Agora.
Tentava viver as aventuras,
Que muitas vezes não cabia em papel
- Mesmo os de árvores grandes -.
Iniciava uma nova jornada.
Sua granada era a simplicidade.
Entendia que armaduras tiravam a mobilidade,
E que o não uso delas
O deixava vulnerável.
Resolveu aprender a lutar.
Esquivar faz parte,
Criança faz arte,
Artista faz comercio.
Ele, na sua inocência,
Caiu na quase demência,
De procurar profundezas,
Velejando em lagos rasos.
De procurar em miudezas,
Amores, e não, afagos.
Outrora,
Se via seco,
Se via estreito.
Sua saída tinha um beco.

– Carlos I. Gomes.



terça-feira, 1 de março de 2016

Da lama ao caos



A ordem nunca produziu nada, além de réplicas. O novo, para nascer, precisa do caos. Qualquer nascimento, é necessariamente conturbado. Desde uma planta, a um poema; desde uma criança, à uma descoberta científica. A vida é caótica por natureza.
               Milhares de anos atrás, o elemento fogo foi percebido pelo Homem, e usado como instrumento. E esse achado mudou totalmente o nosso modo de agir, de pensar, de comer, e modificou inclusive o nosso corpo – já que agora a carne passou a ser assada, e tornou-se macia. Portanto, mais fácil de ser mastigada. Acabou a necessidade de mandíbulas tão protuberantes -. Além de modificar o aparelho digestório. O fogo, que hoje sai de um simples aperto no botão de um isqueiro, ontem, foi originário de uma revolução. Ele não existia só para os humanos, mas também para os outros animais. Porém, o caos da natureza, que para os outros animais, é ordem, para nós, é revolução.
            Apenas nós vemos, e muitas vezes, criamos o extraordinário. Para eles, sempre mais do mesmo. Nós até nos deslumbramos com a “simples” metamorfose da lagarta que vira borboleta. Apesar de ser de fato fascinante, é comum. Acontece aos montes. Incomuns são as obras de Niemeyer; os bonecos de Vitalino; os escritos de João Cabral de Melo Neto; as sinfonias de Bethoven... A lista não cabe em papel. Mas por que a metamorfose da borboleta tanto nos fascina? 
            Com a presença do fogo, o Homem perdeu um denominador com a todos a todos os outros animais: O Predador! Sem ele, passamos a habitar o topo da cadeia alimentar, e sermos o vilão de qualquer historinha de ninar contado pela mamãe urso, aos seus filhinhos.
            O fogo virou arma, proporcionou a criação de instrumentos de caça melhores, e em consequência disso, a briga deixou de ser pela mera sobrevivência diária. Passamos a planejar o amanhã. Sem predadores, não há a necessidade de locomoção em curtos intervalos de tempo. Deixamos de ser nômades, e tivemos um aumento populacional. A briga passou a ser pelo território. A agricultura, recém nascida, precisava de terras férteis e irrigação, para gerar seus frutos. Os humanos, recém estabilizados, precisavam de armas para garantir que isso acontecesse. Aconteceu!
            Fortificamos nossos abrigos; domesticamos animais; expandimos nosso território, e pouco a pouco, modificamos a natureza. Incontáveis foram as guerras. E veja que absurdo: uma luta interespécie, tornou-se também, intra. Nos tornamos o “vizinho chato” que briga com todo mundo. Instauramos o caos, onde tudo era ordem( por mais conturbada que fosse). Nos tornamos donos do mundo, porém, perdemos nossa parte mundana.
            É inegável que a humanidade evoluiu em diferentes aspectos ao longo dos milênios. É inegável que as guerra trouxeram avanços. É inegável que o caos também trás o progresso. Mudanças surgem necessariamente de crises. É comum nos sentirmos bem ao estarmos em contato com a natureza, respirando ar puro, tomando banho em rios, subindo em árvores, e pisando descalço na areia fofa da praia, ou no chão de barro. Há uma “religação”. Algo talvez de ordem espiritual. O problema é que esquecemos que também seríamos “mais do mesmo”, se não fosse o raciocínio.

Ps.: peguei o título emprestado do Chico Science


 – Carlos I. Gomes. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Desenhista

No silêncio do escuro,
Um filete de luz se anuncia.
Se não fossem com os traços de lápis,
Talvez com a boca, falaria.
Toda via, em todas as vias
Já trafegavam carros,
Todos os dias pareciam caros,
A semana ficou falida.
É preciso saber o que se apaga,
Se é flor ou se é adaga,
Pra não comprometer o desenho.

-Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Supetão



Sabe aquela amizade de infância?
Foi construída agora.
Todo o carinho que eu deveria ter pelos do passado,
Foi cravado pelo teu carinho presente.
Confessei a ti o meu maior pecado,
E em um abraço apertado,
Me deixaste contente.
És semente!
Pois tens muito a germinar.
Em mim, estás brotando.
Ganhando cada vez mais espaço.
Não tem esquadro, régua ou compasso,
Que diga o ângulo, o comprimento ou o ritmo.
E desse barco que sou marujo,
Quanto mais limpo,
Mais estou sujo,
Te declaro: Capitã!

-Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Até a próxima!



Esbarrei nos teus cachos.
Pretos, assim como os meus,
Que feitos, assim como os teus,
Costumavam se aquietar.
Não dessa vez.
Um alvoroço.
Pareciam se alegrar com o suor derramado pela dança,
Pareciam bailar como a esperança
De jovens sonhadores.
Parecia ter a força de mil homens,
Com mais de cem cavalos de potência.
Parecia essência!
Agora espero a vez do Coco pisado.
Pra de novo escorrer o suor,
Pra de novo nós dois dá um nó,
Desses que não solta com pente.

-Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Somos



Somos gente, somos mente,
Somos corpo, quiçá espírito.
Somos grito que sussurra as quatro cantos,
Somos prantos sorrisos e alegrias.
Somos a construção e também os engenheiros.
Passageiros de uma só embarcação.
Somos vida, somos morte,
Sem precisar se sorte,
Muito menos de azar.
Os nossos braços servem de abrigo,
Para o amigo que enfrenta a tempestade.
Não somos metade, nem um todo fechado,
E nem um cadeado,
Que precisa de uma chave.
Somos tantos que já nem sei ao certo,
É como dizia Humberto:
“Somos quem podemos ser,
Sonhos que podemos ter”,
Que nunca foram,
Nem tiveram!


– Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Nunca abra uma gaveta velha! (se não quiser mudanças)



Hoje eu estava procurando uns pertences em uma gaveta antiga, e encontrei vestígios de um atleta. Tinham medalhas do Futebol, da Natação, e até do Jiu-Jitsu. Meus pais se enchiam de orgulho quando eu trazia alguma para casa. Meu pai -principalmente- com a tolice de um velho babão, e a alegria de uma criança ao ganhar jujubas, enchia a boca pra dizer que no ultimo fim de semana, seu filho tinha conseguido uma medalha de ouro com um mergulho perfeito.
Saindo dos esportes, todavia, continuando na ação, as medalhas ganharam o nome de Distintivos, já que me tornei um Escoteiro. Infelizmente, o Grupo no qual participava acabou, e levou com ele as aventuras com lenço azul e roupa cáqui. (esqueci de mencionar que o Jiu-jitsu viera depois desta época. E as medalhas voltaram a ter o nome de Medalhas).
Depois das artes marciais, não recebi nenhum prêmio tendo o corpo como ferramenta, e as medalhas passaram a dormir em uma gaveta. E todo mundo sabe que poeiras entram em quase todos os lugares. Com elas não foi diferente. Parei e vi que apesar de ter passado pouco mais de uma hora desde o último banho, eu também tinha poeira sobre meu corpo, e pior, a disposição física de um enfermo(talvez agora eu tenha feito jus ao título que recebi de “Pseudo dramático”. Nem sei o que isso significa, mas o fulano que nomeou parecia ter uma grande convicção do que disse. Deveria ser um “Pseudo cult”). Foi isso que vi! Vi também que a inércia nunca combinou comigo. Uma das frases que mais ouvi na vida foi “esse menino inventa coisa”(meus pais falavam/falam, e muitas vezes com um tom não muito satisfeito). Minha resposta sempre foi: “já existia. Só comecei a fazer”.
Analisando meu corpo de velho que ainda nem chegou aos vinte, vi o quão a falta de movimento afetava minha autoestima. Agora(que não será “agora” quando você estiver lendo) escrevendo este texto, lembrei(o verbo no pretérito indica que o “agora” já passou até para mim. O tempo ainda vai acabar me matando!) que as ultimas vezes que coloquei meu corpo parar mexer, foi quando segui o conselho de uma amiga: dance! Corpo e mente sorriram. Gargalharam, na verdade. É incrível como essa separação não faz sentido algum quando os dois estão em harmonia. Eu estava com uma mente cheia de ideias, para um corpo cansado.
Estou longe de conseguir uma medalha como dançarino. Realmente sou péssimo fazendo isso. Mas fico ótimo depois que faço. E é isso que importa. As medalhas voltarão para a gaveta. Meu corpo não! Ele não cabe mais lá. Não digo que o movimento corporal é a peça chave para um bem-estar psíquico. Digo que essa foi a chave que encontrei pra mim, no momento. Encontre a sua, ou as suas; Faça um chaveiro. Só não arrombe portas. Além de ser crime, só fica bonito na ficção. Depois fica um vão aberto, e no inverno faz frio.
Agora vou parar de escrever. Amanhã terá Maracatu, depois será Sexta, e todo mundo sabe que as noites de domingo são um saco quando não se tem nada pra fazer. Então, me concede uma dança?

– Carlos I. Gomes.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Quase um falsete

Vou improvisando enquanto o futuro não chega,
E só o que vem, é presente,
Sem em embrulho. Que descaso!
Só instrumentos que viram entulho,
Que por acaso, sopram uma nota dó.
Que venham o mi e o sol.
Que venham as terças e as quintas,
Que não venham famintas,
Mas sim, nutridas de calor.
Do teu sopro, e dedilhar.
Gostaria de conseguir planejar um futuro sem si.
Mas pra combinar com mi,
Só ti, só fá!

- Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Oficina

Ecoa, porém inaudível no vazio do ser.
Reverbera intransponível sem querer.
Eu comigo,
Eu sozinho.
Mas não totalmente só.
Também existe um outro eu.
Também existe e insiste
 A cair uma lágrima.
Cai em forma de tinta
Que molha o papel.
Cai a letra,
Cai o verso,
Cai a rima,
Desmorona a poesia.
E esse jogo de vai e volta: não quero mais.
Nem mais, nem menos, nem pouco,
Tampouco nunca.
E que um simples beijo na nuca
Não me faça mudar de ideia.
Uma parte de mim chora,
A outra parte ri.
Ri da desgraça alheia como se não fosse sua.
Ri como uma sereia
Que metade mulher, metade peixe,
Não há quem a deixe
Sentir-se na completude.
Pois duas metades não se completam,
Nem mesmo se concertam,
Não somos oficina!


– Carlos I. Gomes.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Maria

Sem idade, mostra a carga,
De vidas passadas em um só presente.
É sensível com as palavras,
E se apaixona por belezas,
Que de tão internas,
-Para os distraídos- estão ausentes.
Tem um toque desajeitado,
Que se eu tivesse julgado,
Diria ser cômico.
E tem seus momentos trágicos.
E tem seus momentos enfáticos,
E tem seus truques, batuques, seu gingado.
Tem a bondade de Tereza,
Mas de Madre, nem os panos.
Só danos de ajudar quem talvez não mereça.

- Carlos I. Gomes.