Prezados
Senhores do Destino,
Declaro-vos
livres de tal incumbência em minha vida. Sei que durante todo esse tempo, foi muito
difícil me manter na linha, ou fora dela. Não pensem que eu não reconheço os
trabalhos prestados. Muito pelo contrário. Só tenho a agradecer. O problema é
comigo. Eu cansei de ficar esperando pelo senhor, Deus. Esperar a paz mundial.
Esperar um redentor. Esperar que algo dê certo na minha vida. E Satanás, eu sei
que as tentações foram muitas. Algumas quase irresistíveis. O senhor sabe bem
como satisfazer os prazeres da carne. Eu vos agradeço por tamanha dedicação. E
mais: parabenizo-vos! Outros teriam desistido facilmente. Mas como falei
anteriormente, o problema é comigo. Eu não sou do tipo que vive em penitência;
Que não questiona; Que se satisfaz com um “se deus quiser isso acontece”. Nem
tampouco sou dos que se esbaldam em esbórnias e surubas. Pensei nisso durante
muito tempo. Quase fiquei sem dormir. Terminar um relacionamento de dezoito
anos é realmente complicado. E não pensem que não fico triste. Nós poderemos
até sair de vez em quando pra dar uma volta. Todavia, receio que não vai ser a
mesma coisa. E até entendo se vocês quiserem se afastar de vez. Não condeno de
forma alguma. É que eu decidi tomar minhas próprias decisões. Eu sei, eu sei, é
o modo mais difícil de viver. Vai ser difícil não recorrer às suas forças para
que algo dê certo. Satanás, é realmente difícil a convivência contigo. Você
quer minha alma a todo custo. É pacto pra cá, pacto pra lá. A sociedade já faz
o trabalho de me sugar até o meu último suspiro. Estudo; trabalho; planos;
família. E ainda tenho que pensar no futuro. E pior, sem nem tê-lo garantido.
Futuro esse, regido por Deus. Ou seja, não tenho escolhas a não ser o
rompimento. Eu quero ter o mínimo de poder de escolha. Eu sei, existem leis
cósmicas que possibilitam, ou impossibilitam os meus atos. Mas agora vou tentar
não responsabiliza-los se algo der certo ou errado em minha vida. Tiro esse
fardo de suas costas. Existem mais de sete bilhões de pessoas no mundo. Doze
por cento delas passam fome. Um por cento detêm metade do PIB mundial. Penso
que se renunciar o meu posto, os senhores terão mais tempo para cuidar de tais
assuntos. Que cá entre nós, estão jogados às traças. Na minha cabeça não faz
sentido que vossas senhorias percam tanto tempo comigo, enquanto que eu posso
fazer minhas próprias escolhas e, colher as consequências delas. Seja me dando
muito bem, ou me ferrando totalmente. Por isso declaro acabada a “quebra de
braço” travada durante todos esses anos. Talvez no fim das contas, terei que
ficar do lado de um dos dois. Mas por hora, daremos uma trégua. Não sei se a
ocasião pede um “tchau” ou um “até breve”. Portanto, ficaremos sem
despedidas.
– Carlos I. Gomes
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