terça-feira, 15 de março de 2016

Uma carta a Deus e a Satanás



Prezados Senhores do Destino,

Declaro-vos livres de tal incumbência em minha vida. Sei que durante todo esse tempo, foi muito difícil me manter na linha, ou fora dela. Não pensem que eu não reconheço os trabalhos prestados. Muito pelo contrário. Só tenho a agradecer. O problema é comigo. Eu cansei de ficar esperando pelo senhor, Deus. Esperar a paz mundial. Esperar um redentor. Esperar que algo dê certo na minha vida. E Satanás, eu sei que as tentações foram muitas. Algumas quase irresistíveis. O senhor sabe bem como satisfazer os prazeres da carne. Eu vos agradeço por tamanha dedicação. E mais: parabenizo-vos! Outros teriam desistido facilmente. Mas como falei anteriormente, o problema é comigo. Eu não sou do tipo que vive em penitência; Que não questiona; Que se satisfaz com um “se deus quiser isso acontece”. Nem tampouco sou dos que se esbaldam em esbórnias e surubas. Pensei nisso durante muito tempo. Quase fiquei sem dormir. Terminar um relacionamento de dezoito anos é realmente complicado. E não pensem que não fico triste. Nós poderemos até sair de vez em quando pra dar uma volta. Todavia, receio que não vai ser a mesma coisa. E até entendo se vocês quiserem se afastar de vez. Não condeno de forma alguma. É que eu decidi tomar minhas próprias decisões. Eu sei, eu sei, é o modo mais difícil de viver. Vai ser difícil não recorrer às suas forças para que algo dê certo. Satanás, é realmente difícil a convivência contigo. Você quer minha alma a todo custo. É pacto pra cá, pacto pra lá. A sociedade já faz o trabalho de me sugar até o meu último suspiro. Estudo; trabalho; planos; família. E ainda tenho que pensar no futuro. E pior, sem nem tê-lo garantido. Futuro esse, regido por Deus. Ou seja, não tenho escolhas a não ser o rompimento. Eu quero ter o mínimo de poder de escolha. Eu sei, existem leis cósmicas que possibilitam, ou impossibilitam os meus atos. Mas agora vou tentar não responsabiliza-los se algo der certo ou errado em minha vida. Tiro esse fardo de suas costas. Existem mais de sete bilhões de pessoas no mundo. Doze por cento delas passam fome. Um por cento detêm metade do PIB mundial. Penso que se renunciar o meu posto, os senhores terão mais tempo para cuidar de tais assuntos. Que cá entre nós, estão jogados às traças. Na minha cabeça não faz sentido que vossas senhorias percam tanto tempo comigo, enquanto que eu posso fazer minhas próprias escolhas e, colher as consequências delas. Seja me dando muito bem, ou me ferrando totalmente. Por isso declaro acabada a “quebra de braço” travada durante todos esses anos. Talvez no fim das contas, terei que ficar do lado de um dos dois. Mas por hora, daremos uma trégua. Não sei se a ocasião pede um “tchau” ou um “até breve”. Portanto, ficaremos sem despedidas.

– Carlos I. Gomes

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